No momento, o povo testemunha a absurda inversão de valores. Empresas que fecharam milionários acordos de leniência, por exemplo, querem de volta o dinheiro que tungaram dos cofres públicos. Participantes do escândalo estão de volta ao poder. Amante (codinome de Gleisi Hoffmann na lista de propinas da Odebrecht) permanece no comando do PT. Montanha (Paulo Pimenta, na Certidão de Nascimento) é chefe da Secretaria de Comunicação Social. Moch (João Vaccari Neto) anda fazendo palestras para militantes e sindicalistas.
“Num evento, Vaccari disse que a Lava Jato foi uma conspiração dos Estados Unidos para tirar a esquerda do poder e atingir empresas brasileiras em ascensão no mercado internacional”, conta Silvio Navarro na reportagem de capa desta edição. “E as delações assinadas por empresários e pelos próprios políticos? Segundo Vaccari, foram obtidas por meio de ‘tortura psicológica e coação’.
No mais recente capítulo do desmonte da maior e mais produtiva operação anticorrupção da história, o Amigo do meu pai (Lula, na lista de propinas da empreiteira) indicou o Pós-Italiano (Guido Mantega) para ocupar uma vaga no Conselho da Vale, com salário mensal de R$ 112 mil. O ex-ministro da Fazenda de Lula foi acusado de receber R$ 50 milhões da Odebrecht.
Os ministros do STF não se limitaram à “Operação Lava Passado”. Também vêm arquitetando os maiores casos de injustiça da Justiça brasileira. O drama dos presos políticos do 8 de janeiro talvez seja o mais angustiante. Muitos permanecem atrás das grades sem julgamento há mais de um ano. Outros continuam presos por tempo indeterminado a tornozeleiras eletrônicas. Alguns chegaram a ser condenados a 17 anos de cadeia.
“A pena é superior à de Elize Matsunaga, conhecida por ter esquartejado o marido”, compara a reportagem de Cristyan Costa. Condenado a 400 anos de cadeia graças às descobertas da Lava Jato, Proximus (Sérgio Cabral) vive livremente no Rio de Janeiro por decisão da trinca formada por Ricardo Lewandowski, André Mendonça e Gilmar Mendes.
Inspiradora da Lava Jato, a Operação Mãos Limpas, ocorrida na Itália na década de 1990, investigou 4.520 pessoas, das quais 3,2 mil chegaram a ser processadas; e 1.281, condenadas. “Todos julgados por Cortes ordinárias, sem foro privilegiado”, informa Carlo Cauti. “Milhares foram presos preventivamente. E em nenhum caso a Corte Constitucional italiana, equivalente ao STF, ousou questionar um só julgamento.”
Com 80 fases, a Lava Jato ofereceu denúncia contra 550 pessoas e prendeu 295, com 174 condenações. Dos cerca de R$ 15 bilhões rastreados, aproximadamente R$ 4 bilhões acabaram devolvidos aos cofres públicos. Gradativamente, todas essas conquistas têm sido anuladas por diferentes instâncias da Justiça.
Em contraponto a essas más notícias, há pelo menos uma claramente positiva. Nesta semana, Oeste comemora a edição de número 200. Só temos agradecimentos a reiterar. Foi você, nosso assinante, quem garantiu a consolidação da revista. Foi você, nosso leitor, quem rejeitou a censura e permitiu que chegássemos até aqui. Continue conosco. Assine a revista. Divulgue o que Oeste publica. Nós dependemos unicamente de você.
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